domingo, fevereiro 26, 2006

O jornalismo morreu?

Sou jornalista por amor. Adoro a profissão. Embora esteja eu um pouco desanimado. Todo mundo sabe que as grandes reportagens morreram. Especialmente no Brasil. Acabo de entrar no site da Mother Jones - uma revista independente sem fins lucrativos dos estados Unidos que me deixou com inveja. O número correspondente a março traz uma reportagem sobre os oceanos. A reportagem tem 12 páginas de 55 linhas com, em média, 4.080 caracteres. No Brasil já se diria que o leitor não tem tempo de ler.
A matéria é ótima. Lembrou-se do mar - essa fossa que o mundo esqueceu. Na versão on-line, os links abundam. Os oceanos, diz Julia Whitty, autora, não existem. Só há um oceano. Funcionam como um rio. As águas de todos os oceanos se comunicam. A água que passa agorinha na Costa do Canadá, voltará a ela em 1.200 anos.
O inglês do artigo é compacto. Não é fácil. E se você quiser vender um artigo para a revista? Pode, não há problema. Basta fazer o quie o editor quer. Ele quer reportagens investigativas que mostrem o que o governo ( dos EUA ou da China) quer esconder, os rolos das grandes empresas, a miopia científica, a fraude institucional e a hipocrisia. tem mais. Quer artigos provocadores do pensamento que desafiem a sabedoria convencional dos negócios do país.
Quem no Brasil enfrenta a miopia da ciência? Quem pode dizer que a ciência também sofre disso? Um cientista pago por empresas interessadas dizem isso ou aquilo e a palavra é inquestionável. No caso da ecologia por exemplo, as maiores fontes são empresas como Petrobrás, Itaipu, Furnas, Eletrobrás. Que ridículo!
Não estou defendendo um denuncismo aleatório. Defendo pesquisas. Investigações. Um inveja incrível - é o que eu sinto. A Mother Jones é um meio alternativo. Para sobreviver aceita doações de leitores, vende camisetas de algodão puro, aceita propaganda, tem loja on line. E lá está a revista, uma leitura obrigatória para gente consciente.
Que saudade do jornalismo investigativo. Os links que ofereço ao lado trazem idéias novas. São blogs, novas midias, projetos, entidades, exemplos, loucuras. Há de tudo.

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